VIDA
O
pai de Clara chamava-se Favarone; a mãe, Hortolana. Ela era a filha
mais velha e só teve duas irmãs: Catarina (mais tarde consagrada com o
nome de Inês por São Francisco) e Beatriz.
Houve uma revolta
por parte dos plebeus de Assis que guerriaram contra os nobres da
cidade, obrigando-os a fugirem. A familia de Clara retirou-se
inicialmente para o castelo de Corozano, antiga propriedade da família,
então mantido por Martinho de Corozano, primo de Santa Clara, pai de
Amata e Balvina, que também seriam Irmãs em São Damião.
Posteriormente, os nobres de Assis começaram a reunir-se na cidade de
Perusa, aliando-se aos nobres de lá para retomar Assis. Nessa época, com
tantas famílias reunidas, Clara e suas irmãs devem ter tido
oportunidade de ser instruidas por muitos bons professores. Mais tarde,
ela e Inês mostrariam ter uma excelente capacidade de escrever. Mesmo
nesse tempo, em Perusa, Clara deve ter tido um relacionamento muito
próximo com diversas jovens que haveriam de segui-la em São Damião.
Sabemos de Filipa de Gislério, Cristina de Parise, Cecília de Gualtieri
di Caciaguerra; e, conheceu também Benvinda de Perusa, outra futura
Irmã, que nesse tempo devia ter sido uma criada.
De Assis
entraram, logo no começo, Pacífia de Guelfúcio e Catarina (Inês), irmã
de Clara. Mais tarde entraram também Hortolana, mãe de Clara e,
finalmente a irmã mais nova, Beatriz.
Na mesma ocasião, também
São Francisco esteve em Perusa, preso depois da derrota dos assisienses
na batalha de Collestrada, em 1202.
Em 1210, foi possível um
tratado de paz entre os nobres e os plebeus de Assis. Monaldo, tio de
Clara, conseguiu que fosse assinado pelo potestá de Perusa um documento
exigindo que Assis restaurasse a praça de São Rufino, danificada e
queimada em 1198.
Depois disso, é possivél que a família, ou
pelo menos Clara com seus pais e irmãs tenham se abrigado como hóspedes
no Mosteiro de São Paulo da Abadessas, enquanto esperavam a reforma da
casa paterna.
Foi no tempo posterior a sua
volta para Assis que Clara teve as melhores oportunidades de acompanhar
sua mãe Hortolana no atendiemento dos pobres. Hortolana era muito
piedosa e caridosa. Fazia muitas peregrinações e já estiverá até na
Terra Santa, provavelmente até antes do nascimento de Clara.
Em
Assis, formou-se bem depressa a fama de que Clara era uma jovem devota e
recolhida. Os familiares sabiam que ela não queria casar-se. Foram
motivos que devem ter colaborado para que São Francisco quisesse falar
com ela.
Em 1210 ou 1211, Clara e Francisco se encontraram. Eles
tiveram vários encontros, em que devem ter falado sobre Jesus, sobre a
vocação dela e sobre os planos para ela entrar em uma nova vida.
Antes de entrar, Clara vendeu tudo que lhe ia caber como dote quando
se casasse e distribuiu o dinheiro aos pobres. Francisco exigia isso de
seus discípulos, lembrando a exigência de Jesus ao moço rico.
Clara conta em seu Testamento espiritual que São Francisco teve uma
inspiração quando estava reformando a Igreja de São Damião e convidou os
pobres a ajudá-lo na construção de um futuro mosteiro onde "viveriam
umas mulheres de vida tão santa que isso repercutiria em toda a Igreja".
Ele começou uma restauração verdadeira da Igreja através das pedras
vivas que foram Clara e suas Irmãs, os frades e os seculares
franciscanos.
Francisco combinou com Clara que ela sairia de de
casa no Domingo de Ramos. Ela tinha que se apresentar na catedral com
suas melhores roupas (era o dia de seus esponsais com Cristo). Lá, o
bispo Dom Guido, lhe entregou um ramo de oliveira, como um sinal. De
noite, depois de afastar milagrosamente pesadas colunas e tronco, ela
saiu pela "porta dos mortos" (só usada quando havia algum enterro) e foi
para a Porciúncula, a capelinha de Nossa Senhor dos Anjos.
Na
Porciúncula, depois de ter preparado tudo de acordo com o cerimonial do
tempo, fazendo os frades esperar com velas acesas e conduzir a
canditata até o altar, São Francisco cortou os cabelos dela, como sinal
de consagração, e lhe deu o hábito dos franciscanos.
Dessa
forma, na Igrejinha de Santa Maria dos Anjos, que fora preparada por
Francisco no lugar desacampado chamado Porciúncula - mais tarde doado
pelos beneditinos aos franciscanos - nasceram a Ordem de São Francisco e
a Ordem de Santa Clara.
Depois da cerimônia, acompanhado por
Frei Filipe, São Francisco levou-a para o Mosteiro de beneditinas
chamado São Paulo das Abadessas. Foi uma caminhada de pouco mais de dois
quilômetros a partir da Porciúncula.
No dia seguinte, Monaldo, o
irmão mais velho de Favarone - o pai de Santa Clara - foi buscá-la
com um pelotão de soldados. Mas desistiu diante dela e des seus gestos
de consagração. Tirando o capuz que tinha na cabeça, Clara mostrou que
estava consagrada, porque tinha os cabelos cortados. Todos compreenderam
que o tio só poderia levá-la com permissão do bispo. O tio Monaldo se
retirou e as beneditinas protegeram a jovem Clara.
Quinze
dias depois : Provavelmente para que Clara conhecesse outro estilo de
vida consagrada: a de leigas que estavam reunidas em uma igreja do
bosque, Francisco levou-a para um lugar chamado Santo Ângelo de Panço.
Mesmo estando afastado da cidade o local era conhecido porque por ele
passavam, já antes de Cristo, as águas levadas para Assis. Alertado de
que o tio Monaldo fora buscar Catarina que se unira a Clara, São
Francisco veio também consagrá-la, mudando então o seu nome para Inês.
Depois de alguns meses em Panço, Clara e Inês foram morar
definitivamente no santuário de São Damião, que São Francisco tinha
preparado para elas e para suas novas irmãs que foram chegando.
Vindas
de famílias pobres ou ricas, todas, em São Damião, eram igualmente
Irmãs. Foi uma grande inovação de Clara: nos Mosteiros antigos, só as
nobres ou ricas eram monjas, rezavam o Ofício Divino e apreendiam a ler e
escrever. As outras eram chamadas de "conversas" e pegavam o trabalho
pesado.
As clarissas dedicavam muito tempo à oração, mas também
se dedicavam a trabalhos domésticos e a fiar, tecer e costurar. Algumas
saíam para ir prestar serviço às pessoas necessitadas.
Chamamos
de "Forma de vida" a Regra escrita por Santa Clara. Foi uma de suas
preciosas iniciativas. Antes dela, as mulheres religiosas seguiam as
mesmas Regras escritas para os homens, sem adaptações. A partir do seu
tempo, todas as Regras femininas aproveitaram suas propostas.
Não foi fácil para Santa Clara ter a sua própria Forma de Vida. Para
ela, a Regra era uma maneira de viver o mistério de Jesus Cristo de
acordo com a proposta de São Francisco. Foi
obrigada a seguir a Regra de São Bento e suas adaptações feitas
pelos Papas Gregório IX e Inocêncio IV. Só em 1252 pode escrever a sua,
que foi aprovada em 1253, dois dias antes de sua morte.
Ainda
está guardado, no Proto-Mosteiro de Assis, o original do "Privilégio da
Pobreza" concedido a Santa Clara pelo Papa Gregório IX, em 1228.
Santa Clara teceu sua Rera ao redor da "Forma de Vida" que São Francisco lhe deu quando ela entrou na Ordem:
"Desde que, por inspiração divina, vos fizestes filhas e servas do
Altissimo Sumo Rei Pai celeste e desposastes o Espírito Santo, optando
por uma vida de acordo com a perfeição do Santo Evangelho, eu quero e
prometo, por mim e por meus frades, ter por vós o mesmo cuidado
diligente e uma solicitude especial, como por eles".
O "Testamento"
"Entre outros benefícios que temos recebido e ainda recebemos
diariamente da generosidade do Pai de toda misericórdia e pelos quais
mais temos que agradecer ao glorioso Pai de Cristo, está a nossa
vocação que, quanto maior e mais perfeita, mais a Ele é devida".
"Pois o próprio Senhor colocou-nos não só como modelo, exemplo e
espelho para os outros, mas também para nossas irmãs, que ele vai chamar
para a nossa vocação, para que também elas sejam espelho e exemplo para
os que vivem no mundo. Portanto, se o Senhor nos chamou a coisas tão
elevadas que em nós possam espelhar-se as que deverão ser exemplo e
espelho para os outros, estamos bem obrigadas a bendizer e louvar a
Deus, dando força ainda maior umas às outras para fazer o bem
no Senhor". No
ano de 1253, depois de sessenta anos de vida terrena, de pouco mais de
quarenta anos de consagração religiosa, de uma enfermidade de quase
trinta anos e de umaintensa vida de oração, chegou a hora de Clara ir ao
encontro do Esposo. Passou seus últimos dias na cama. Confortada pela
presença de suas irmãs e dos antigos companheiros de São Francisco, ela
ainda deixou grandes ensinamentos. Na antevéspera de sua morte, foi
atendido o seu último desejo: Receber a Regra assinada pelo Papa
Inocêncio IV para poder beijá- la antes de morrer.
Quando um dos frades a exortou a ser paciente nos sofrimentos, ela respondeu:
" Irmão querido, desde que conheci a graça de meu Senhor Jesus Cristo
por meio do seu servo Francisco, nunca mais pena alguma me foi molesta,
nenhuma penitência foi pesada, doença alguma foi dura."
Nos últimos momentos, falou com sua própria alma dizendo:
"
Vá segura, que você tem uma boa escolha para o caminho. Vá, porque
Aquele que a criou também a santificou. E, guardando-a sempre como uma
mãe guarda o filho, amou -a com eterno amor. E bendito sejais Vós,
Senhor, que me criastes!"
Quando Santa Clara morreu,
considerando a grande devoção do povo pelos santos, o Papa mandou
enterrá-la na Igreja de São Jorge, onde também São Francisco tinha sido
enterrado. Depois disso, construiu-se ao lado, a basílica de Santa
Clara, para onde seu corpo foi solenemente transladado em 1260. Em 1850,
seus restos mortais foram redescobertos. |
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